sábado, 20 de junho de 2020

As semelhanças entre eu e ela



         São inúmeras as diferenças entre eu e a Menina Mulher, isto, desde a culturais tanto quanto os princípios da vida. Por estes motivos discutíamos tanto, são esses os motivos que fazem com que boa parte do tempo, fiquemos ranzinzos, sempre fui um menino tímido, mas muito atencioso com tudo o que acontece ao meu redor. Na cidade, sempre fiquei com a minha mãe, juntamente com a minha irmã. Já o meu pai, morava no sitio juntamente com o meu irmão. Minha mãe era uma verdadeira guerreira, tenho muito orgulho de ter sido seu filho e carregarei até o fim dos meus dias, os tantos conselhos que ela me deu. Minha irmã sempre foi problemática, desde a sua adolescência até os dias atuais, ela adentrou no mundo da prostituição e dali não mais conseguiu sair. Minha mãe vivia buscando ela das casas de desconhecidos, e por fim, o pouco momento que tive com a minha mãe, já que ela trabalhava muito, era resolvendo os problemas da minha irmã.
         Meu pai vivia no sitio com o meu irmão, e quando por assim tínhamos tempo para ficarmos juntos, a bebedeira do meu irmão acabava que chamando sua atenção. Ah, como foi difícil aqueles tempos, eu era um menino cujo tinha que resolver as coisas sozinhos. Depositei o meu futuro sempre nos meus pés, tendo sempre a certeza de que o futuro é um mero reflexo das atitudes do presente. Presenciei cenas difíceis de se esquecer. Tive que fugir inúmeras as vezes para casa de vizinhos enquanto o meu irmão promovia o maior terrorismo dentro de casa. Foram várias as vezes que ele agrediu os meus pais e eu, bem, morria de medo, acho que uma das cicatrizes que não fecham, é a dificuldade em perdoar ele por me ter feito presenciar tantas cenas como aquela.
É fácil julgar os outros, um exemplo disto, é que a Menina Mulher vive afirmando que tenho uma vida fácil, que se estou cursando uma faculdade, é porque meu pai banca ela. Me entristece muito este comentário imaturo, mas tudo bem, se fosse parar para dar ouvido aos que as pessoas costumam dizer, certamente nem mais aqui estaria, seria um viciado qualquer como meu irmão ou até pior. Enganam-se as pessoas que pensam que não passei por inúmeras tentações de vícios; muitos tentaram me introduzir no mundo das drogas, mas sempre tive a convicção dos meus desejos, os quais, não eram aquilo que as pessoas costumavam pensar, até porque, uma das coisas que mais prezo é a liberdade, e os vícios, bem, entendo que são prisões que nos fazem viver em um mundo repleto de ilusões.
         Paguei todas as parcelas através do meu suor, enquanto trabalhava na UMEI. Meu pai me ajuda sim, jamais irei negar isto, afinal, não possuía condições de me bancar financeiramente; mal conseguia comprar as minhas roupas e pagar a faculdade, portanto, ele me ajudava bastante, mas o princípio de eu fazer ou não fazer a faculdade, é um mérito exclusivamente entre eu e Deus.
         Agora em respeito a Menina Mulher, ela me relatou que a família dela também nunca parou para perguntar como andava os seus sentimentos, nem tão pouco deixo-a possuir uma infância. Sua mãe desde o princípio tentou aborta-la, só não conseguiu por milagre de Deus. E o pior de tudo, é que todos os dias a relembravam da tentativa de sua mãe, inclusive a própria mãe ao dizer que não gostava dela, que lhe daria veneno de rato no objetivo de ter sonhos eternos, semelhante ao que as fabulas relatam, porém, na versão mais cruel.
         A família inteira era voltada a prostituição e ao mundo da macumbaria. Sua mãe a abandonou com seus oitos anos de idade, dizendo que iria bem ali comprar balinha e que já voltaria. Bem, me corta o coração toda vez que ela me relata está sua amarga experiência, ela disse que ficou dias e dias, sentada na frente de casa na expectativa da volta da sua mãe. Passou anos e anos e até hoje este reencontro ainda não aconteceu. Sua mãe foi para a Europa, e construiu uma outra família por lá.
         Seu sofrimento não se resume somente ao abandono; sua vó tinha o entendimento de que a vida da mulher resumia a satisfazer os homens, cuidar da casa, enfim, ser denominada como mercadoria para os homens. Afirmo isso pois ao saber do estrupo que a Menina Mulher sofreu pelo próprio tio, isto, logo após o abandono cometido por sua mãe, sua vó tampou os olhos diante da cruel realidade e por assim, julgo-a como louca, como um ser que não sabia o que estava dizendo, neste dia, ela apanhou como nunca havia apanhado na vida. Percebo que está cicatriz ainda continua dentro de seu ser, pois é inevitável o sofrimento ao relembrar do quanto ninguém se importava com ela. Creio que sua força se resume a estas experiências, digo isso, pois muitas pessoas não conseguiriam reerguer suas cabeças e prosseguir a vida. Independentemente do que irá acontecer com o nosso relacionamento, já tenho muito orgulho de ter tido o privilégio de conhece-la, ela é sim uma grande Menina Mulher.


(...)

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